K DE KOLÔNIA: KAFKA E A DESCOLONIZAÇÃO DO IMAGINÁRIO
MARIE-JOSÉ MONDZAIN
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Editora Contraponto
Área FILOSOFIA
Idioma Português
Número de páginas 208
Edição 1ª ED 2025
ISBN 9786556390222
EAN 9786556390222
Mondzain gira um parafuso e deixa saltar uma mola na engrenagem da máquina de escrever da Colônia Penal. A máquina, em Kafka, é a concentração de toda a energia do sistema até se tornar aberrantemente perceptível. Solto um parafuso, a mola salta. E fica exposta a sujeição que inscreve, na carne dos condenados, as palavras de uma língua, de uma ética, de uma cultura alheias. Escrita em 1914, a novela de Kafka foi profética ao ilustrar o que veio, após ser experimentado em colônias alemãs na África, a se tornar a máquina nazi-fascista que brutalizou em escala industrial o controle e o extermínio de populações.
A filósofa descomprime essa mola: da máquina à lógica da colônia penal, da colônia penal ao sistema colonial imperialista, dos genocídios do colonialismo imperial até os extermínios coletivos que se perpetuam em Gaza, enquanto o capitalismo continua a produzir os excluídos da Terra. A máquina desenvolveu-se no século XXI, quando deixou de atuar somente sobre o trabalho dos corpos e se tornou capaz de produzir, ampliar desejos, amores e ódios. Mas o salto desta mola não se esgota como um revelador da condição político-social contemporânea. O salto da máquina de escrever é também um salto libertador e descolonizador, à medida que desconstrói o imaginário do sistema perfeito, mecânico e cibernético, de sentenciamento e execução.
Mondzain acompanha o diário de Kafka na redação da Kolonie e mostra como ato de escrever liberta do sentimento de opressão que o mesmo ato descreve. O salto operado pela arte revela o escape possível. Aqui não é pelo enfrentamento, não é pela contradição, não é pelo contra ou anticolonial que seriamos capazes de escapar, pois ninguém escapa da Kolonie. O ato de escrever liberta porque deixa vir à tona sonhos e pesadelos, como o da máquina de escrever na carne, tatuadora mecânica, dentada e antropófaga. O que é, para nós, escrever? O que é para uma filósofa ou para um escritor de ficção a possibilidade de explorar o imaginário? De revirar as imagens? De dar vida própria aos nossos sentidos e percepções? No mundo em que as sentenças continuam a ser impressas e gravadas nos corpos, ainda haverá espaço para teclar uma letra?
Fernando Santoro